P098 – Athletic Mobilisations in Africa: Control and Resistance
10 July, 14:00 – 15:30

Convenor(s)
Melo Victor / UFRJ/Brasil

Abstract

For years, there has been little interaction/dialogue between the fields of African Studies and Sport Studies. In this context, athletic activities were considered as a mere artifact mobilized by the previous colonial power and simply a tool of submission of to be used against the colonized. However, due to Post-Colonial Studies and more rigorous research, it has become clear that, without denying earlier perceptions, athletics were also a tool to not only to mobilize colonized peoples seeking independence, but also a mechanism of affirmation for young African nations created by decolonization. In several African countries, athletic clubs helped to prepare anti-colonial struggle. Likewise, athletics was one of the main tools used to build national identity, a process that has become more complex with the inclusion of African teams in international competitions. We consider the study of sport relevant to understand the relationship between colonizers and the colonized, discuss the contradictions and ambiguities of colonial discourses, develop further investigation about resistance to colonization and, finally, assess the role of athletics in the process of national building in the African continent.

Mobilizações esportivas em África: controle e resistência
Durante anos, os Estudos Africanos e os Estudos do Esporte pouco dialogaram. No primeiro momento de relacionamento entre esses campos de investigação, considerou-se a prática esportiva como um mero artefato mobilizado pelo colonizador, uma forma de submissão do colonizado. A aproximação com os Estudos Pós-Coloniais e a realização de investigações mais rigorosas permitiram perceber, sem negar a percepção anterior, que o esporte foi uma ferramenta não só de mobilização do colonizado à busca de independência, como de afirmação das jovens nações africanas criadas pela descolonização. Em vários países do continente, organizações esportivas foram focos de preparação para a luta anticolonial. Da mesma forma, a prática esportiva veio a revelar-se uma das principais ferramentas de construção de sentimentos de nacionalidade, processo que se tornou mais complexo com a inserção das equipes africanas nas competições internacionais. Consideramos o estudo do esporte relevante para compreender as relações entre os colonizadores e os colonizados, discutir as contradições e ambiguidades dos discursos coloniais, aprofundar a investigação das resistências à colonização e, ainda, avaliar o papel da prática na sedimentação dos sentimentos de pertença nacional no continente africano.

Paper 1

Nascimento Augusto / Instituto de Investigação Científica Tropical

Political contexts, social (dis)organization and indiscipline in football in São Tomé and Príncipe

O ponto de partida desta comunicação são os casos de indisciplina no futebol são-tomense, mais frequentes do que se suporia à luz das alusões à pacífica e cordata idiossincrasia dos são-tomenses. Por algum tempo os campos de futebol pareceram ser os únicos cenários onde era possível constatar-se fenómenos da indisciplina socialmente disseminada. Nesta comunicação, analisam-se os equívocos relacionados com a indisciplina nos campos de futebol, cujos significados políticos e sociais em São Tomé e Príncipe variaram do colonialismo até ao tempo presente. Sem uma intencionalidade política precisa, a indisciplina dentro e ao redor dos campos de futebol teve uma dimensão política no sentido em que foi expressão de um mal-estar social? Ou, numa sociedade actualmente em acelerada mutação, mais do que uma forma difusa de protesto social, a indisciplina no futebol reflecte, sobretudo, a desorganização da própria actividade futebolística a que se parece querer pôr cobro desde há alguns anos?

Paper 2

Melo Victor / Universidade Federal do Rio de Janeiro

Bittencourt Marcelo / Universidade Federal Fluminense

In the Luanda streets: motorsport in Angola (1957-1965)

Desde o século XIX, o esporte paulatinamente se consolidou em Angola. No decorrer da primeira metade do século XX, foi mobilizado como mecanismo de distinção por parte de colonos, estratégia de busca de reconhecimento por uma elite nativa, bem como forma de resistência, ressignificação e até mesmo preparação para a luta anticolonial por angolanos de diferentes estratos sociais. De toda forma, tornou-se uma manifestação importante no cotidiano da colônia. Nos anos 1950, uma nova modalidade começou a melhor se delinear em Luanda: o automobilismo. Entre 1957 e 1965, foi disputado o Grande Prêmio de Angola, contando com corredores de vários países e províncias de Portugal. Na década de 1960, muitas competições de automóveis foram com frequência disputadas em outras cidades angolanas. Nesse momento, crescera muito o número de colonos, apesar do desencadear da luta de libertação nacional, em 1961. Da mesma forma, a vida econômica e social ganhara novo dinamismo. Este estudo objetiva discutir a conformação do automobilismo em Angola, centrando o debate na Luanda dos anos de 1957-1965, buscando entender a articulação da modalidade com o cenário político, econômico e cultural provincial. Para alcance do objetivo, fizemos uso de jornais publicados no período em tela. Espera-se dar mais um passo para compreender a peculiaridade da prática esportiva em cenários coloniais, bem como lançar uma nova luz sobre tal realidade a partir de uma importante e valorizada manifestação cultural.

Paper 3

Bancel Nicolas / Faculté des Sciences sociales et politiques, Université de Lausanne

Riot Thomas / Faculté des Sciences sociales et politiques, Université de Lausanne

Le scoutisme confessionnel comme ressource de mobilisation politique : les cas du Rwanda et de l’Afrique occidentale française au tournant des indépendances (1945-1962)

Entre 1945 et 1962, les anciens territoires coloniaux de l’Afrique occidentale française (AOF), comme ceux du Rwanda ou du Burundi, sont entrés dans une phase de transformations politiques rapides, marquées par la naissance ou l’action plus vigoureuse de partis politiques autonomistes ou indépendantistes – ce qui est bien connu – mais aussi par de fortes mobilisations de la jeunesse africaine scolarisée engagée dans les transformations sociales, culturelles et politiques des différentes zones – ce qui l’est moins.
Les deux mouvements de jeunesse catholiques (scoutisme catholique en AOF, mouvement xaveri au Rwanda) que nous nous proposons d’étudier sont intimement liés au développement de la scolarisation, dans le primaire, le secondaire et le supérieur. On constate, en AOF comme au Rwanda, que les scolarisés ont représenté la grande majorité des participants à ces mouvements. Des mouvements étudiants africains ont également été liés à ces mouvements, fournissant l’essentiel de l’encadrement.
Grâce à une comparaison entre le Rwanda et l’ancienne AOF, nous voudrions montrer que cette « association » de mouvements étudiants aux organisations de jeunesses catholiques a été, dans un cas, un moteur de la décolonisation (Rwanda), dans l’autre un mouvement politiquement conservateur qui n’a pas participé à la décolonisation. Le corpus empirique que nous mobilisons se compose d’entretiens, d’archives administratives et missionnaires, de correspondances et d’archives privées.

Paper 4

Bosslet Juliana / SOAS, University of London

Running the defence ragged: football field as a significant place in the development of class relations (Luanda, 1961-1974)

O tema do trabalho vem sendo negligenciado pelos historiadores há décadas. A emergência da história cultural trouxe à tona novos temas talvez mais sedutores, muitos dos quais ligados ao esporte e ao lazer. A presente proposta tem como objetivo voltar ao tema do trabalho em diálogo com as novas perspectivas abertas pela história cultural. Se o tema das relações de trabalho e movimentos trabalhistas deixou de atrair a atenção dos historiadores de um modo geral, isso é ainda mais verdadeiro para o caso dos territórios ultramarinos portugueses. A existência de um regime autoritário na metrópole e a repressão a movimentos trabalhistas trouxeram consigo uma suposta inexistência de uniões compostas por trabalhadores. Em Angola,até 1975, existia o SNECIPA – Sindicato dos Empregados do Comércio e Indústria– que, no entanto, não contava com a adesão de número significativo de trabalhadores negros. Com a aparente inexistência de uma união sindical representativa em Angola, historiadores do trabalho em África tenderam a se concentrar em outros territórios do continente. Argumento aqui que as relações sociais de trabalho estavam a ser construídas de outras maneiras, através de outras instituições, tais quais as organizações desportivas. O objetivo é lançar luz sobre como uma classe trabalhadora estava em formação em Luanda através de uma análise focada nos times de futebol suburbanos e nos que participavam do campeonato de futebol corporativo na capital de Angola entre 1961 e 1975.

Paper 5

Afonso Aline / Centro de Estudos Internacionais – ISCTE/IUL

Carvalho Clara / Centro de Estudos Internacionais – ISCTE/IUL

Brincadera sabi: Mandjuandadi groups as a space for leisure and mutual aid in the health sector

O texto tem como objectivo compreender como as actividades lúdicas recobrem práticas de sobrevivência e entreajuda nos grupos de Mandjuandadi na Guiné-Bissau. As mulheres constituem o cerne dos grupos de Mandjuandadi, grupos inspirados nas associações rurais que adoptam os princípios da unidade de género, divisão etária e o princípio da interajuda. Os grupos são formados sobretudo para actividades lúdicas, como um espaço de convívio e diversão. O artigo procura analisar estes grupos, em relação das práticas associativas, com o empowerment das mulheres na esfera social, económica e com o financiamento para o sector de saúde. Foram utilizados como instrumentos de investigação, nas regiões centro e Sul da Guiné-Bissau, o levantamento de dados, a observação directa e entrevistas semi-estruturadas.

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